sexta-feira, 23 de março de 2018

Superar a insatisfação





A insatisfação e a ambição fazem parte da natureza humana, ambas contribuem para uma busca de melhoria contínua daquilo que são as condições de vivência dos seres humanos e quando bem direccionadas levam ao melhoramento e ao progresso das vidas humanas. No entanto essa mesma insatisfação pode induzir sofrimento desnecessário e desvalorização do quanto cada um já alcançou e do que já é.

A evolução é positiva quando integradora do que existe, quando valoriza devidamente o presente e desse modo encontra espaço para a introdução de melhorias ou novas realidades. Pois existem possibilidades infinitas no universo prontas a serem "descobertas" pela inteligência humana quando esta estiver preparada para as abraçar e desfrutar em pleno.

Quando a insatisfação é resultado da rejeição do que é neste momento isso gerará mais insatisfação que não encontra saciedade. Pois cada vez que alcança o objetivo desejado não o desfruta plenamente porque um novo se revela e leva a sua atenção.

O que fazer então perante a insatisfação que não encontra resposta imediata?

Em primeiro lugar observe essa insatisfação, como se revela ela, de que forma se manifesta no seu corpo e na sua mente? Que efeitos produz na sua realidade e vivências? 

Quanto mais ciente da insatisfação está, menos dependente dos seus efeitos está e isso dá-lhe poder de decidir o que fazer, que relevância permite que tenha na sua realidade e na forma como vive o seu dia-a-dia. Se nada fizer essa insatisfação ganha relevância ocupando cada vez mais espaço na sua atenção retirando paulatinamente o prazer das suas atividades diárias. Podendo resultar, se nada for feito, em depressão.

Isso não implica que não possa ter momentos de insatisfação, pois as coisas nem sempre se passam como gostaríamos que passassem e isso é muita das vezes positivo para nós, levando-nos a deixar de ser tão letárgicos, a deixar de nos embrenhar nas rotinas e a procurar fazer diferente com vista a aumentar o autoconhecimento.

Já se a insatisfação for crescente e se releve desde as mínimas coisas aí já começa a ter efeitos nefastos naquilo que é a capacidade de desfrutar desta nossa vivência humana.

Depois de observar a insatisfação e o modo como se manifesta em si tome consciência que ela ocorre em si mas não o limita, ela não define a essência do que é. Logo em vez de rejeitar essa insatisfação aceite-a como ela é, sem resistência e verá como ela perde a força que antes parecia ter sobre si e repara que de facto nada de verdadeiramente mau lhe acontece, a não ser a sua mente criando cenários catastróficos que depois, normalmente, não se revelam reais.

Normalmente a insatisfação é resultado da não realização daquilo que acreditava ser o melhor para si, são os cenários que julgamos que devem ocorrer e que depois ocorrem de modo de diferente do esperado e desejado por nós que induzem a nossa insatisfação, seja através do que não alcançamos, seja pelo não controlo dos comportamentos das demais pessoas que fazem parte da nossa realidade.

Aceite que assim é, reconheça quando acontece desse modo e depois em consciência, conectado com o momento presente aja de forma positiva tendo em conta o seu melhor e o melhor dos outros. Se cuidar de tratar dos demais como deseja ser tratado a possibilidade de resultar insatisfeito será muito menor.

Deixando de se embrenhar em pleno com a insatisfação verá que aquilo que acreditava que lhe faltava já existem em si, ou seja, aquilo que é verdadeiramente relevante e que vai muito além do meramente material, já existe em si, é parte da essência do que é. Cuidando de se conhecer melhor verá que de facto nada lhe falta.

quarta-feira, 7 de março de 2018

O apego é o que mais te faz sofrer



Aquilo que mais te leva ao sofrimento é o apego e este manifesta-se de múltiplas formas na tua realidade. Nomeadamente o apego a essa ideia de ti, essa personalidade que acreditas ser e quando colocada em causa, de acordo com a tua perceção, faz-te sofrer. O sofrimento não é nada mais do que uma estória que alimentas na tua mente sobre aquilo que vai ocorrendo na tua realidade e que não está de acordo com o que desejarias.

O apego manifesta-se desde as pequenas coisas do dia-a-dia, tal como uma simples fila no supermercado ou do trânsito. Até aos relacionamentos mais relevantes na tua vida, ou seja, o comportamento das pessoas que mais amas. Relativo à primeira, as filas, esse apego surge na tua reação e sensações que experimentas quando essas filas surgem e como se desenrolam, aquilo que decides fazer com essas filas não altera a rapidez das mesmas mas altera a forma como passas esse tempo.

Já relativamente aos relacionamentos o maior sofrimento surge do apego ao que consideras que deveriam de ser os comportamentos dessas pessoas e quando estas não se comportam de acordo com o que desejarias, de acordo com o que consideras ser o mais correcto, isso induz em ti sofrimento, porque mesmo que tenhas uma posição de dominância sobre essas pessoas, o desgaste que sofres para impor esse domínio é grande.

A boa notícia é que depende apenas de ti libertares-te desses apegos, isso é uma escolha tua. Ser fácil ou difícil depende de ti e da tua vontade de o superar. Na maior parte das vezes não é fácil porque os teus hábitos estão de tal maneira enraizados, funcionam de tal maneira em piloto automático que nem te apercebes das reações que tens. Por isso é importante praticares a presença, praticares o foco no momento presente.

Isso faz-se orientando a tua atenção para o que se passa no agora, primeiro dentro de ti, seja notando nas sensações físicas que surgem, seja notando no diálogo interno que surge e que constantemente te dita julgamentos sobre o que ocorre nessa tua realidade. Assim como também reparando depois no que se passa fora de ti, ou seja, as ocorrência externas, tudo aquilo que acontece ao teu redor e que te chama a atenção.

Estando focando no agora, estando presente de facto começas a identificar aquilo que estás mais apegado, aquilo que mais irá mexer contigo e que mais te levará a ter uma reação primária de fuga ou luta, accionando todos os teus alarmes internos na maior parte das vezes desnecessariamente porque não se tratam de situações de sobrevivência e sim de simples situações do dia-a-dia.

Começando a conhecer essas situações que mais mexem contigo, e a que mais estás apegado, isso permite-te começar a deixar acontecer o que tem de acontecer sem reagir de imediato tentando que aconteçam como achas que devem de acontecer. E se te permitires primeiro aceitar o que acontece tal como acontece, isso significa reconhecer as coisas tal como são e não implica que tenhas de gostar ou aceitar apenas as reconheces como são.

Fazendo isso ficas mais livre e focado para perceber que nada acontece por acaso e que tens mais influência sobre os acontecimentos estando mais presente para o que se passa em ti, tendo uma maior consciência do que sentes e dos pensamentos que surgem em ti. Desse modo com desapego irás agir de um modo mais intuitivo, mais em fluxo com a vida e verás como isso faz toda a diferença na tua realidade e o sofrimento tende a diminuir e mesmo a desaparecer na maior parte das situações.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Torna mais simples os teus relacionamentos



Quanto mais ciente daquilo que é a tua verdadeira natureza mais preparado estás para lidar com os teus relacionamentos nesta tua experiência humana. O ser humano é um ser relacional, ele vê-se e perceciona-se na interação com os demais. Uma das primeiras coisas que deves ter ciente é que na realidade não vês os outros de acordo com o que eles são e sim de acordo com a perceção que tens do que eles são. 

Isto não é um mero jogo de palavras, efetivamente é o que acontece, todos nós sem exceção fazemos desse modo, nós vemos os demais em face daquilo que são as nossas referências internas que tipificam determinados comportamentos de uma forma ou de outra. Pois aquilo que é certo para uns pode não ser para outros e mesmo ao longo do tempo isso pode-se ir modificando para uma mesma pessoa, ou seja, em diferentes momentos uma mesma pessoa pode ter opiniões diferentes.

Por isso quando estás a interagir com outra pessoa aquilo que está de verdade presente são seis pontos de vista diferentes, ou seja, está presente a forma como vês essa pessoa e aquilo que ela é. Tal como para essa pessoa está presente a forma como ela te perceciona e aquilo que tu és de verdade. A somar ainda a forma como cada um se perceciona a si mesmo. Agora imagina isso aumentar ao adicionar mais pessoas.

É isto o que potencia os mal entendidos porque nós vemos as coisas de acordo com aquilo que somos, de acordo com aquilo que julgámos somos e percecionamos o outro através desses nossos filtros. É por isso relevante tomar consciência de que assim é e depois decidir fazer diferente.

Esse fazer diferente passa por uma maior abertura de espírito, ou seja, permitir-se ver o outro de acordo com o que ele é, sem preconceitos, observando aquilo que são os seus comportamentos, aquilo que diz e faz, tentando ser empático, ou seja, procurando ver as coisas de acordo com o seu ponto de vista, ainda que possa parecer à partida muito diferente do seu.

Porque na realidade só sendo a outra pessoa poderia entender na totalidade o porquê dela fazer o que faz. só tendo vivido o que ela viveu poderia ter uma compreensão maior para a entender. Esse esforço no entanto não é limitante para si porque o facto de se permitir ser empático com o outro, o facto de procurar afastar preconceitos, não implica que deixe de ser quem é e ter as suas ideias, também elas forjadas por toda a sua experiência de vida e depois chegar à conclusão de que mantém a sua opinião.

Isto releva que é normal haver discordância, é normal haver diferentes pontos de vista e é mesmo salutar que assim seja, pois é na diversidade que se pode evoluir, que se pode elevar o nível de consciência, pois se fizermos sempre o mesmo os resultados serão forçosamente os mesmos, é insano esperar resultados diferentes mantendo os mesmos comportamentos.

Mas é importante ter consciência dessas diferenças, dessas perceções diversas para se poder reduzir o nível de conflito. Aquilo que são os conflitos básicos que nada acrescentam e que vão minando os relacionamentos. Em vez de procurar que as pessoas sejam e se comportem como acha que elas se devem comportar, porque isso na verdade não depende de si, mesmo os nossos filhos que são educados por nós naquilo que achamos ser o melhor para eles, chega um momento onde divergem e tem os seus próprios gostos e formas de ver as coisas que podem colidir com o que consideramos ser o melhor, isso acentua-se mais a partir da adolescência. Mas é mesmo assim, é parte do processo natural da vida.

Em vez de tentar forçar as pessoas a se comportarem como acha que se devem comportar aquilo que pode fazer é ser um exemplo daquilo que é para si o mais correto e então sim os demais se se reverem na sua forma de ser, nos seus comportamentos irão imitá-lo, irão seguir o seu exemplo. 

Respeitando-se a si mesmo e respeitando as diferenças dos demais verá como ficam mais simples os seus relacionamentos e o nível conflitual diminui.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...