sábado, 24 de maio de 2014

Eu não sou especial





Há aqueles que se julgam especiais, que se julgam como sendo melhores que todos os outros, sobretudo pelo que fazem, pelos seus feitos, por tudo aquilo que vão acumulando e através desses bens materiais demonstram a sua suposta superioridade perante os outros que lhe são inferiores. Os que estão nesta situação ainda vivem imersos nessa ideia de limitação, são puro ego.

Por outro lado também há aqueles que se julgam especiais enveredando por um caminho de suposta descoberta pessoal, num caminho de evolução espiritual. E à medida que vão acumulando formações e obtendo experiências pontuais de transcendência, vão se sentindo ainda mais especiais, como que fazendo parte de um grupo restrito de seres humanos que atingem a iluminação, algo que veem como sendo admissível apenas aos escolhidos, aos especiais. Ampliando desse modo a ideia de separação de todos os outros, alimentando o seu ego.

Entre estes extremos existem muitas pessoas que se direccionam quer para um, quer para o outro. Eu próprio estava mais próximo do segundo extremo apresentado, aquele dos que em algum momento se sentiram especiais por saber algo que os outros, ainda adormecidos, não sabiam e que era conhecer a verdade, saber que somos mais que apenas essa ideia de limitação, que somos mais que o ego.

Tinha como objetivo atingir a iluminação, esse estado que havia lido em livros e visto em videos do you tube sobre outras pessoas tidas como especiais que o haviam atingido e queria isso para mim também. Ser mais, ser livre. Criando desse modo imensas expectativas sobre o que seria ser iluminado e como isso mudaria a minha vida.

E no entanto após tudo isso, todo o tempo dedicado nessa busca, após ter chegado a esse ponto de ter atingindo a tão almejada iluminação a conclusão final é que não sou especial, que ser iluminado ou não ser iluminado de facto nada tem a ver com a nossa essência.

Tudo isso são conceitos dessa ideia de limitação que cremos ser, do ego e o que resulta disto é que é perfeito que assim seja. Se quisesse ir mais além diria que é igualmente imperfeito, pois não é nem um, nem outro, porque estes são mais do mesmo, conceitos. 

É normal que assim seja, faz parte do jogo que assim seja, deste jogo do ego, deste jogo de ser humano. Aqui chegados a esta consciência ficamos livres para desfrutar da realidade tal como ela é, com tudo de bom e mau que acreditamos ver nessa realidade. Continuamos a ter momentos de tristeza, de julgamento, de critica, assim como momentos de alegria, de felicidade pura, de imensidão de Ser.  E no entanto nada disso afecta aquilo que é a essência, aquilo que é a vida que somos plenamente. Nada do que acontece diminui ou aumenta aquilo que já somos em cada momento, em todos os momentos, sem exceção.

Eu não sou especial e como é bom saber disso, não sou mais nem menos do que qualquer outra pessoa. Aceito tudo aquilo que acontece porque  de facto não tenho que o aceitar, já está aceite por natureza porque é o que acontece, de outro modo não aconteceria. Mas por vezes não aceito, ou julgo que não aceito e é perfeito que assim seja, até que a aceitação me aceite a mim.

Presente aqui e agora eu sou o que sou, e isso é muito mais do que posso pensar que sou, tal como tu és.

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